A um conjunto capaz composto por vários elementos que transitam da era Spaletti, André Villas-Boas procura acrescentar maior
consistência a nível defensivo, não descurando no entanto um futebol vertical
que potencia as características do leque de jogadores à disposição. O seu
antecessor não resistiu à divisão do balneário provocada pela oposição a
algumas políticas tomadas pelo clube no mercado, algo com reflexo nas
prestações da equipa e que teve como principal manifestação a saída de um homem
da casa: Igor Denisov. Agora, depois das experiências falhadas em terras de
“sua Majestade”, o sucessor português ambiciona provar em território russo que
o sucesso ao leme do FC Porto não foi uma mera casualidade.
Por: Afonso Canavilhas
Qualidade na saída,
entrega com critério, postura confortável com bola e criatividade no momento
ofensivo, dando azo tanto à explosão de Hulk pelo flanco, - ou procurando o típico
desvio para uma zona mais central a fim de alvejar a baliza - sem esquecer a
importância do criativo Danny na manobra. Assim se define, em traços gerais, o
Zenit de André Villas-Boas, que lidera o campeonato russo somando todos os
jogos por vitórias antes de visitar a Luz. Num ano em que a crítica assume que
o campeonato russo está mais fraco, a equipa de São Petersburgo procura singrar
na Europa.
A qualidade na primeira
fase de construção é garantida por jogadores fortes na saída e tecnicamente bons.
Garay – curiosamente a jogar mais descaído sobre a direita – e Witsel, bem conhecidos
do público português, são elementos essenciais na manobra. O argentino é um
central de fino recorte técnico, preciso no passe, com grande taxa de sucesso que
é já um elemento fulcral no sector. Conta com a companhia do duro Lombaerts no
eixo, que tem jogado com mais regularidade que Neto. Antes de mais, importa
também falar do guarda-redes Lodygin, que embora tenha os seus defeitos e
falhas pontuais, se trata de um atleta em quem o ataque do Benfica encontrará uma grande barreira.
Witsel é um jogador que
pega bem no jogo a partir de trás, forte em progressão e exímio na proteção do
esférico. Para as posições “6” e “8”, note-se a qualidade das soluções (Witsel,
Tymoshchuk, Fayzulin, Javi Garcia) que Villas Boas tem à sua disposição, constituindo
uma incógnita a forma como moldará o meio-campo na Liga dos Campeões. A dúvida
andará entre o 4x3x3 e o 4x2x3x1.
Hipótese 1: AVB pode
apostar em Tymoshchuk como homem mais recuado do trio do meio-campo, fazendo
com que o ucraniano se defina como um “6”, e dando maior liberdade aos dois interiores
- 4x3x3. Com a chegada de Javi Garcia, o espanhol poderá também assumir esse
papel.
Hipótese 2: Para a nova
época, Villas Boas tem vindo a apostar de forma intermitente num duplo pivot, recuperando
uma estratégia que já havia sido utilizado por parte do seu antecessor. Com
Javi Garcia e Witsel, ambos ex-Benfica, não será de estranhar que na prova
milionária, em testes de maior exigência, o técnico português opte por reeditar
esta dupla. Um homem mais preso, forte no desarme, e outro mais solto. Não
seria novidade, visto que já realizou esta experiência com Witsel e Fayzulin na
segunda mão do “play-off” de acesso à Liga dos Campeões, jogo em que
curiosamente o atleta russo acabou expulso.
Para desempenhar função de armador de jogo, Villas
Boas tem duas soluções: Uma é o português Danny, e a outra Shatov. Ambos podem
jogar numa zona mais interior ou descaídos sobre uma das alas. Danny é um jogador
tecnicamente superior, inteligente. Shatov é um também um bom jogador de
equipa, bastante trabalhador, um operário dentro das quatro linhas. Elementos
valorosos em transição.
O Zenit possui dois
laterais influentes na manobra ofensiva, destacando o envolvimento de Criscito,
que ataca mais e com maior critério agora às ordens de Villas Boas. Smolnikov,
embora jogue preferencialmente pela direita, pode também atuar do lado
contrário, como aconteceu por exemplo diante do Amkar Perm, na 5ª jornada da liga
russa. Essencialmente ofensivo, deixa muito espaço nas costas e daí AVB ter
desviado Garay para a direita. A opção tem recaído sobre Smolnikov, mas no
banco existe uma alternativa totalmente credível: Anyukov, experiente lateral que embora não tenha o fulgor de outrora, é
superior defensivamente e poderá ser aposta. O internacional russo é uma das
opções mais viáveis no banco de AVB, que peca por ser algo “curto” para as
exigências de uma desgastante temporada.
Hulk é um dos
indiscutíveis no onze inicial, jogador que dispensa apresentações. Na banda
contrária, a opção varia consoante o desafio. Shatov ou Danny, como já foi
referenciado atrás, são as principais soluções, andando nesta dança entre o
miolo e o flanco. Não sendo extremos com a natural tendência de irem à linha
para cruzar, mesmo quando jogam mais sobre a ala, existe esse ímpeto natural de
fletir para o meio, apoiando o ponta-de-lança a partir de zonas interiores. O
Zenit não é, por isso, uma equipa que explore muito em profundidade. O
mediático Arshavin, em fase descendente na carreira, aparece na sombra dos dois
jogadores.
Relegando Kherzhakov para
o banco, Rondón está diferente, ganhou nova vida em campo. O venezuelano está
mais jogador. Movimenta-se de forma mais inteligente, melhorou a noção dos
espaços que tem que ocupar em campo, e isso traduz-se evidentemente nos números
que apresenta.
O Zenit é uma equipa que
privilegia a posse, André Villas Boas gosta que as suas equipas procurem
dominar o jogo tendo por base a gestão da posse, embora muitas vezes haja
alguma precipitação no último terço do campo. Sem ela, a equipa organiza-se num
4x5x1. Os extremos recuam para dar consistência ao sector intermediário, aproximando
linhas e deixando Rondón isolado na frente. O Zenit procura desta forma
controlar a largura. Não obstante, apresenta algumas debilidades, como por
exemplo a reação à perda de bola. Os laterais – sobretudo Smolnikov – tendem a
deixar algum espaço nas costas, e talvez por aí Villas Boas tenha (tal como já
foi referido) desviado Garay para a direita, protegendo-lhe com maior rigor as
costas. O Zenit é algo lento em transição defensiva, e os adversários procuram
muitas vezes jogar pelos flancos, em profundidade.
De resto, embora seja
praticamente consensual que a equipa de São Petersburgo tem o melhor onze do
campeonato, o plantel, no cômputo geral, poderá não estar à altura daquilo que
se exige a uma equipa inserida na realidade competitiva do Zenit. AVB tem um
banco algo envelhecido, que não responderá a todas as necessidades de uma época
que se afigura desgastante, embora tenha a pausa que se conhece. Passou num
teste de elevada exigência no último fim-de-semana, com vitória sobre o Dínamo
em cima da hora. Agora, na Luz, terá aquele que é muito provavelmente o desafio
de maior dificuldade até à data na presente temporada.
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