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quinta-feira, 3 de março de 2011

ENTREVISTA - André Portulez vive nova aventura na Hungria

A REVISTA FUTEBOLISTA fez-se de novo à estrada para seguir as pisadas de mais um jovem português nos caminhos do futebol além fronteiras. Hoje “viajamos” até à Hungria para falar com André Portulez, um médio de 24 anos que desde Janeiro último representa o Kaposvar Rákoczi, emblema da principal liga magiar.
Com passagens pelos escalões de formação de clubes como a Naval 1º de Maio, Boavista e Académica de Coimbra, Portulez está assim de regresso a um país onde viveu a sua primeira experiência internacional, sendo que esta nova aventura, por assim dizer, se apresenta como um desafio de maior dimensão. E André diz-se preparado para fazer história...


Revista Futebolista (RF): Regressou nesta reabertura de mercado à Hungria, um país que conhece bem na qualidade de futebolista. Que razões estiveram na origem deste regresso, e já agora quais as expectativas para esta nova aventura?
André Portulez (AP): As razões que me levaram a regressar não tiveram absolutamente nada a ver com o facto de já ter aqui jogado em 2007. Trata-se somente de uma oferta que me foi feita e que mediante a situação actual em que me encontrava pareceu-me ser adequado vir para aqui. Foi da Hungria como poderia ter sido de outro país, mas um factor que pesou muito foi o facto de o clube estar neste momento a lutar por um lugar que dê acesso às comeptições europeias na próxima época. O Rákoczi é um clube que normalmente faz um campeonato tranquilo, mas esta temporada tem possibilidade de fazer história, logo, quero ficar ligado a este feito; penso assim já ter abordado a questão das minhas expectativas para esta metade da época que ainda falta cumprir.

RF: O que conhece deste seu novo clube?
AP: Hoje em dia com a internet é possível ter acesso a muita informação, por isso informei-me bem antes de vir, não foi um tiro no escuro. No entanto já aqui no terreno constatei que estou num clube de gente simpática e com potencial para nos próximos anos fazer o que já está a fazer actualmente, ou seja, lutar por objectivos mais ambiciosos do que aqueles a que se propunha até aqui.

RF: Como já foi referido esta não é a sua primeira incursão no futebol húngaro. Em 2006/07 representou o Integral DAC, na altura na 2ª divisão. Fale-nos um pouco dessa experiência anterior?
AP: As circunstâncias em que me encontrei na Hungria em 2006/07 foram complemente diferentes das de hoje. Na altura vim ao abrigo do programa ERASMUS e conciliei os estudos com o futebol. Hoje não! Encontro-me num clube totalmente profissional e como tal com uma organização diferente da de há 4 anos. As responsabilidades são obviamente maiores também. Noto também uma certa evolução do futebol neste país, até ao nível económico, sendo já capaz de atrair jogadores estrangeiros de campeonatos com um nível superior a este. A participação do Debrecen na fase de grupos da Champions da época passada é um sinal dessa evolução, assim como a emigração de muitos jogadores magiares para campeonatos como o espanhol, o alemão e o italiano, entre outros. A matéria prima existe e estão a ser criadas infra-estruturas que permitem projectar um futuro mais risonho para o futuro futebolístico do país, desde que sejam devidamente potenciadas. A mentalidade que ainda existe é que pode não se coadunar com esse possível desenvolvimento, mas é preciso esperar para ver...

RF: No início da actual temporada conheceu uma nova realidade futebolística a nível internacional: Malta. No entanto poucas vezes actuou pelo Sliema, acabando por regressar à Hungria. O que correu mal em Malta?
AP: Em Malta assinei um contrato de risco, cujo términus estava directamente relacionado com a nossa qualificação ou não para a fase de grupos da Liga Europa. Disputámos a EuroCup, que é uma competição interna entre as 3 equipas maltesas que se qualificam para as competições europeias, competição esta que vencemos sem espinhas. Depois de um bom resultado no jogo da primeira mão (da Liga Europa) na Croácia contra o Sibenik acabámos por ser eliminados em casa e acabou a aventura, estando a equipa a fazer uma época decepcionante desde aí... No entanto guardo as melhores recordações da ilha, não só por me ter proporcionado a minha estreia europeia, mas também pelo estilo de vida que impera, assim como a fantástica amabilidade do povo maltês. É uma porta que ficou bem aberta para mim e um país onde gostaria de voltar a jogar.

RF: Em Portugal – na qualidade de sénior – passou maioritariamente por clubes da 3ª Divisão Nacional, mais concretamente pelo Marialvas, Tocha, Valonguense e Odivelas. Contudo teve uma passagem pela Académica (no escalão de júniores), onde fez jus à tradição de jogador/estudante. Que recordações guarda da estadia em Coimbra?
AP: As melhores recordações! Acho que é um período muito bonito na vida de todos aqueles que têm o privilégio de poderem frequentar o ensino superior. Para tornar essa fase mais especial fui júnior na Académica e obviamente que quem passa por aquela Instituição nunca lhe poderá ficar indiferente. Foi uma etapa que já passou e que fica guardada no álbum dos momentos positivos da minha vida.

RF: A conjugação entre futebol e estudos nem sempre é perfeita, mas no seu caso acabou por sê-lo já que conseguiu terminar a licenciatura (em Educação Física). Quer falar um pouco da experiência enquanto jogador/estudante?
AP: Este aspecto sempre foi muito importante, do meu ponto de vista. E hoje em dia com o cenário de crise que se nos depara há que atentar num aspecto: tem de ser combatida nos jovens a ideia de que não vale a pena estudar porque mesmo estudando não vão conseguir encontrar um emprego. Esta perspectiva da situação está completamente errada! A formação académica continua a ser muito importante senão corremos o risco de daqui a uns anos termos um país que não evoluí porque não há evolução/descoberta se não tivermos o princípio de estudarmos/investigarmos a fundo. O príncipio do facilitismo nunca me acompanhou... eu também poderia não ter estudado e ter passado mais horas no shopping com os meus amigos, mas achei que o meu tempo livre era ocupado com o horário dos treinos, porque para mim treinar sempre foi um prazer, logo, consegui conciliar futebol e escola. Quero com isto dizer que não foi nada de dramático esta conciliação, acima de tudo penso que depende da força de vontade de cada um...

RF: Está de regresso a um país onde foi feliz num passado não muito distante, mas... o que tem faltado para ser feliz no seu próprio país, em termos futebolísticos, claro está?
AP: Se soubesse a resposta a esta pergunta certamente ja teria corrigido algum erro que estivesse a travar a minha evolução em termos de carreira em Portugal. O que referiu na pergunta é obviamente um facto que não consigo refutar, no entanto continuo a ter como um dos meus objectivos jogar ao mais alto nível em Portugal. Não vou estar a referir que sejam problemas relacionados com as políticas erradas ao nível da tomada de decisão dos clubes na hora de contratarem, ou eventuais jogadas de bastidores, porque contra isso nada posso fazer. O que posso fazer é dar sempre o melhor de mim e ficar sempre de consciência tranquila na medida em que dei o máximo tendo em vista a obtenção dos meus objectivos pessoais.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

ENTREVISTA - Jorge Teixeira: «Quero voltar a jogar na Liga dos Campeões»

A REVISTA FUTEBOLISTA regressa à Suíça para conhecer de perto a “aventura futebolística” de mais um emigrante lusitano. Hoje falamos com Jorge Teixeira, defesa de 24 anos que veste a camisola do FC Zurich, emblema que o acolheu na presente temporada depois de em 2009/10 o ter visto na montra mais reluzente do futebol planetário a nível de clubes: a Liga dos Campeões. E quando olha para o futuro imediato o jovem jogador formado nas escolas do Sporting não tem dúvidas em apontar para o caminho do regresso à Champions.

REVISTA FUTEBOLISTA (RF): Cumpre a sua primeira época no FC Zurich, como têm sido estes primeiros meses ao serviço deste clube?
JORGE TEIXEIRA (JT): É verdade, estou no primeiro ano de um contrato de 4 anos que assinei com o FC Zurich e posso dizer que até agora a época tem estado a correr muito bem, quer em termos individuais quer em termos colectivos. No plano individual devo dizer que nos primeiros três jogos efectuados apontei três golos, e tirando um mês e meio em que estive lesionado tenho sido titular. A nível colectivo estamos em 3º lugar a 2 pontos do 1º classificado, o FC Lucerna.

RF: Esta não é a sua primeira experiência no estrangeiro, em 2008/09passou pelo campeonato do Chipre e o ano passado esteve em Israel ao serviço do Maccabi Haifa, quer falar um pouco destas suas duas experiências anteriores?
JT: Sim, depois de ter estado no Fátima numa época (2007/08) em que provocámos sensação na Taça da Liga ao eliminar o FC Porto e vencido um jogo da eliminatória com o Sporting decidi – na época seguinte – que era tempo de arriscar. Foi então que resolvi aceitar um convite de uma equipa que tinha acabado de subir à primeira liga do Chipre, o Atromitos, onde fiz uma excelente primeira volta. Assim sendo em Janeiro fui transferido para o AE Paphos, também do Chipre, onde acabámos por fazer uma boa segunda volta e onde me sai também muito bem. Até que depois recebi o convite do Maccabi Haifa, campeão de Israel em título, onde estive uma época (2009/10).

RF: Ao serviço do Maccabi participou na Liga dos Campeões, a maior “montra” ao nível das competições de clubes a que um jogador pode aspirar. Que recordações lhe trazem essa presença na Champions?
JT: Jogar na Champions foi uma experiência magnífica. Ouvir aquele hino antes dos jogos é algo que nunca vou esquecer, nem tão pouco o ambiente proporcionado pelos adeptos nas viagens entre hotel e o estádio em dias de jogo. Aliás, jogar em Israel surpreendeu-me muito, não só pelo ambiente em redor dos jogos como também pelo bom futebol que lá se pratica, e um bom exemplo disso é a derrota do Benfica (0-3) já esta época ante o Hapoel Tel-Aviv.

RF: Agora está na Suíça, onde o futebol é vivido e jogado de uma forma mais morna do que em Israel, por exemplo, ou até mesmo do que em Portugal…JT: Sim, mas o campeonato suíço é muito competitivo, é muito forte no jogo fisico e apesar disso aqui também se pratica muito bom futebol. Em relação a Portugal penso que a principal diferença reside no nível técnico, pois o nosso futebol é muito mais técnico que o suíço. Agora, em relação a Israel, e na forma como o futebol é vivido, podemos dizer que é totalmente diferente daqui. Em Israel é um prazer jogar naqueles estádios, ouvir os adeptos entoar cânticos com o teu nome, seres reconhecido na rua ou quando vais a um shopping e seres adorado pelos adeptos… é uma sensação incrível.

RF: Sentiu por isso alguma dificuldade de adaptação à Suíça?
JT: Não, fui muito bem recebido pelos dirigentes, pelos adeptos e pelos meus colegas, todos me ajudaram e acarinharam muito, algo que foi muito importante na minha adaptação. Aliás, posso agora dizer que sou um dos jogadores mais acarinhados por todos.

RF: Neste momento, e como já disse, o FC Zurich está em 3º lugar da Superliga suíça, a dois pontos do 1º classificado. Quais são os vossos objectivos para o que resta jogar de campeonato?
JT: Temos vindo a realizar um bom campeonato, com uma equipa muito jovem mas com excelentes jogadores. Neste momento estamos no 3º lugar mas o nosso principal objectivo é chegar ao 1º e sermos campeões, tal como na Taça da Suíça, prova que também queremos vencer. Aliás, vencer é sempre um objectivo deste grande clube.

RF: Antes de emigrar o Jorge percorreu durante três épocas os escalões secundários do nosso futebol. Primeiro ao serviço do Casa Pia, depois viajou para o Odivelas, e por fim esteve no Fátima. Que memórias guarda deste percurso?
JT: Foram experiências muito importantes. Tive sempre excelentes treinadores, como o Jorge Paixão, o Rui Gregório e o Rui Vitória, cada um deles acabou por me ensinar coisas diferentes mas importantes que serviram para agora estar onde estou e tornar-me num jogador mais completo e ambicioso. Destaco também os excelentes companheiros que tive. Aliás, o companheirismo e união que existiram nestas equipas foram sempre aspectos magníficos.

RF: O que faltou para subir o último degrau, isto é, passar para a 1ª Liga portuguesa?
JT: Faltou o mesmo que falta a todos os jogadores da minha idade, ou seja, a falta de coragem de certas equipas apostarem em jovens. Temos realmente excelentes jogadores nas divisões inferiores e é uma pena que os clubes da 1ª Liga não vejam isso. E é por isso que cada vez mais jogadores portugueses se sentem na obrigação de tentar a sua sorte fora de Portugal. É uma pena ver que as equipas de fora apostam muito em nós e em Portugal acontece o contrário.

RF: Fez a sua formação no Sporting, na famosa Academia de Alcochete, foram anos importantes para ser aquilo que é hoje enquanto jogador?
JT: Passei lá anos excelentes da minha vida, aprendi muito em termos de formação. Tive excelentes pessoas em meu redor, relembro em particular os “misters” Leonel Pontes e Paulo Bento que apostaram em mim numa época importantíssima para a minha carreira, e com eles aprendi muito numa altura em que mudei a minha mentalidade em termos de trabalho. Recordo que com eles fomos campeões nacionais de juniores, numa equipa em que tive como colegas o Miguel Veloso, o Nani, o Yannick Djálo, o Carlos Saleiro, o Emídio Rafael, o João Moutinho, entre outros, todos grandes amigos meus e que estão agora em grande quer a nível nacional quer internacional.

RF: Costuma espreitar o campeonato português?
JT; Sim, claro que vejo sempre todos os jogos da Liga portuguesa. Este ano o Porto esta fortíssimo, a jogar um excelente futebol com um excelente treinador. Mas penso que apesar do Porto se estar a destacar o campeonato deste ano está muito mais competitivo, onde as equipas denominadas mais pequenas estão a crescer, algo que é muito bom para Portugal, pois aumenta o nível competitivo.

RF: Há pouco definiu-se como sendo um jogador ambicioso, pergunto-lhe por isso que ambições tem o Jorge Teixeira por esta altura?
JT: Neste momento sé penso em ser campeão suíço, ganhar a taça e jogar novamente na Liga dos Campeões. Quanto ao futuro vou tentar chegar a uma das denominadas grandes ligas da Europa.

RF: E voltar a Portugal não cabe dentro das suas ambições?
JT: Sim porque não? Mas penso que por agora estou muito bem aqui, quero ficar mais alguns anos fora de Portugal, mas no futuro nunca sabemos o que pode vir a acontecer e se for bom para mim porque nao regressar? Mas como já disse por agora não tenciono fazê-lo, visto que tenho uma certa reputação aqui na Suíça, além de que quero melhorar ainda mais o meu futebol.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ENTREVISTA – Rúben Gravata espalha o seu talento pelo futebol maltês

Produto da Academia de Alcochete num passado não muito distante brilha actualmente no pequeno e competitivo campeonato da ilha de Malta, onde “atracou” esta época.
Médio criativo desde logo “pegou de estaca” no miolo do terreno do Marsaxlokk, emblema de uma pequena cidade do sul da ilha mediterrânica que o acolheu nesta sua primeira aventura internacional. Numa entrevista exclusiva à REVISTA FUTEBOLISTA este jovem jogador português nascido há 22 anos fala com saudade e orgulho do seu trajecto no Sporting, de uma certa frustração em não poder estar a mostrar o seu talento nas ligas profissionais de Portugal, do prazer que está a ser jogar na Premier League maltesa pelos “Lampuki’s” – alcunha pelo qual o Marsaxlokk é conhecido –, e da ambição de jogar numa grande liga internacional.
Sem mais demoras passamos a palavra a Rúben Gravata.


Revista Futebolista (RF): Rúben, porquê Malta? Como e quando é que surgiu a oportunidade de jogar no principal campeonato desta pequena ilha mediterrânica?
Rúben Gravata (RG): Bem, surgiu tudo muito rápido. Tinha acabado o campeonato (da 3ª Divisão Nacional portuguesa) há pouco tempo quando me contactaram para vir treinar à experiência a um clube da principal liga de Malta. Pensei um pouco, decidi arriscar e passado 3 dias estava no avião com destino a Malta.

RF: Ver um português a jogar em Malta não deixa de causar uma certa admiração, não só por se tratar de um campeonato pequeno e quase desconhecido do resto da Europa, mas também porque o futebol maltês sempre foi visto como um dos parentes pobres deste continente. Como é que tem corrido esta sua experiência?
RG: Tem corrido muito bem, tenho jogado sempre, o que também ajuda. Mas tenho a dizer que esta experiência me tem surpreendido bastante pela positiva, pois pensei que fosse um campeonato bastante mais fraco e a verdade é que não o é.

RF: Como é que caracteriza o futebol que se joga em Malta? E aproveitando o embalo fale-nos um pouco da Premier Legue maltesa?
RG: Como disse na resposta anterior é um campeonato que me tem surpreendido pela positiva. Todas as equipas tentam jogar um futebol agradável e positivo. A Premier League maltesa é um campeonato muito competitivo e equilibrado, apesar de este ano o Valletta estar a superiorizar-se um pouco em relação a todas as outras equipas.

RF: A julgar pelos seus desempenhos na equipa do Marsaxlokk, onde tem aparecido como titular, como aliás já referiu, a sua adaptação ao futebol da ilha não foi muito complicada, ou estamos enganados?
RG: Não, felizmente adaptei-me bem e tenho jogado com regularidade. Fui muito bem recebido por toda a gente e os meus colegas de equipa sempre me ajudaram na adaptação tanto ao país como ao futebol aqui praticado.

RF: Por falar em país, como é que descreve Malta, a sua cultura, as suas gentes...
RG: É uma ilha pequena com um clima muito bom onde predomina o sol, o calor e com paisagens lindíssimas. É um país que vive basicamente do turismo e onde nós estrangeiros somos bem recebidos. Isso foi algo que ajudou imenso à minha rápida e fácil adaptação.

RF: O Marsaxlokk subiu este ano à Premier League. Quais são os vossos objectivos para 2010/11?
RG: O nosso principal objectivo é a manutenção, e é isso que queremos assegurar rapidamente. Depois se pudermos lutar por algo mais, como por exemplo o acesso às competições europeias, iremos fazê-lo mesmo sabendo que será algo mais complicado de atingir. Temos uma equipa muito experiente que pratica um futebol atractivo e que tem como identidade a qualidade na posse de bola. Penso que temos tudo para alcançar os objectivos traçados.

RF: Já que fala em características da sua equipa lanço a pergunta da praxe: como se define como jogador?
RG: Como pontos fortes destaco a técnica, capacidade de passe tanto curto como longo, criatividade e velocidade de execução. Em termos de pontos fracos vou destacar o jogo aéreo.

RF: Voltando ainda ao início da nossa conversa e olhando para a actual Premier League constatamos que ano após ano esta atrai cada vez mais jogadores oriundos de países onde o futebol é mais desenvolvido, por assim dizer, tais como Brasil, Itália, Argentina, Espanha, ou Portugal. É um sinal de que o futebol maltês quer deixar a cauda do pelotão e tornar-se mais competitivo além fronteiras?
RG: Sim, sem dúvida. Penso que os clubes malteses estão a fazer um esforço para tornar esta liga cada vez mais competitiva. Aos poucos vão melhorando as suas condições de modo a atrair mais jogadores estrangeiros com maior qualidade.

RF: Quem olha para o historial da 1ª Divisão maltesa – hoje denominada Premier League – repara que os títulos foram conquistados quase sempre pelos 4 maiores e mais populares clubes da ilha: o Valletta, o Floriana, o Hibernians, e o Sliema. No entanto na última década têm surgido algumas surpresas quanto ao campeão, e exemplo disso é o facto do até há bem pouco tempo desconhecido Birkirkara já ter ganho 3 campeonatos, e o seu Marsaxlokk um (em 2006/07). Acha que este ano o campeão vai ser mais uma vez um outsider, ou pelo contrário um dos 4 grandes vai levar o título para casa?
RG: Este ano o grande candidato ao título é o Valletta, está claramente mais forte em relação às outras equipas. Já leva uma vantagem de 9 pontos e penso que dificilmente a deixará fugir.

RF: Numa viagem ao passado, ao seu passado, podemos constatar que o Rúben é um produto das escolas do Sporting. Fale-nos um pouco dessa sua chegada ao clube de Alvalade.
RG: Aos 6 anos de idade o meu pai colocou-me a jogar num clube na cidade de Setúbal, de seu nome Pelezinhos. Nessa altura eu só tinha idade para disputar torneios amigáveis. Num desses torneios um olheiro do Sporting viu-me jogar e gostou do que viu. Disse-me que mais tarde iria levar-me a fazer uns treinos de captação. E assim foi, quando fiz 8 anos de idade fui fazer os tais treinos de captação ao Sporting e passados 20 ou 30 minutos de ter iniciado o treino chamaram-me para assinar contrato para a época seguinte. Passado cerca de 3 meses estava finalmente a envergar a camisola do Sporting no Campeonato Distrital de Lisboa, no escalão de escolinhas.

RF: Evoluiu nos anos que se seguiram na Academia de Alcochete, onde cresceu com alguns nomes que mais tarde singrariam no plantel profissional do clube, casos do Rui Patrício, Adrian Silva ou do Daniel Carriço. Inclusive chegou a capitanear algumas equipas do Sporting. Quando olha para trás não sente que poderia ter chegado onde estes três jovens, por exemplo, chegaram? Pergunto, como tal, o que faltou para hoje em dia estar jogar ao lado deles, num mesmo patamar competitivo?
RG: Sim, a verdade é que sempre tive o sonho e a ambição de representar a equipa principal do Sporting desde do primeiro dia que vesti aquela camisola. Mas como todos sabemos é algo muito difícil de atingir, sei que tanto eu como outros que não o conseguiram temos qualidade para jogar a esse nível mas nem todos podem ter essa oportunidade. O futebol é mesmo assim. Mas ainda não desisti de chegar a um patamar mais competitivo, sei que tenho qualidade para tal, agora resta trabalhar para que surja essa oportunidade.

RF: Ainda com idade de júnior foi para a Madeira, mais concretamente para o União local, onde esteve duas épocas. Porquê esta troca, sair da Academia de Alcochete onde tinha todas as “mordomias” para um clube de menor dimensão?
RG: Quando passei a júnior sabia que iria jogar com pouca regularidade no Sporting, sendo assim preferi ser emprestado ao União da Madeira onde poderia jogar com mais regularidade e continuar a minha evolução como jogador.

RF: Como correu a experiência na Madeira?
RG: No primeiro ano correu muito bem, tínhamos uma equipa muito forte onde pontificavam bons jogadores, como por exemplo o Edgar Costa que representa agora a equipa principal do Nacional da Madeira. Se não fossem as lesões de alguns “jogadores chave” fico com a sensação de que poderíamos ter atingido a fase final do Campeonato Nacional de júniores. O segundo ano já não correu muito bem, essencialmente devido a vários problemas internos. Tínhamos jogadores de qualidade no plantel mas nunca fomos uma verdadeira equipa, e a juntar a isso os tais problemas internos que já referi fez com que esta fosse uma época menos conseguida por parte do clube.

RF: Chegado a sénior percorreu durante três épocas os escalões secundários do futebol português, mais precisamente as 2ª e 3ª Divisões. Primeiro no União de Montemor, depois regressaste à Madeira para representar o Portosantense, e por último o Vigor Mocidade. Por mais honroso que seja jogar em emblemas desta dimensão não sentiu alguma frustração por não estar a mostrar o seu potencial numa liga profissional à semelhança do que muitos ex-colegas da Academia faziam?
RG: Sim, confesso que sim. Principalmente no primeiro ano de sénior, pois foi um choque muito grande cair na 3ª Divisão. Felizmente sempre fui forte mentalmente e nunca desisti de lutar pela ambição e sonho de chegar ao futebol profissional.

RF: Que recordações lhe vêm à memória desta passagem pelos escalões mais baixos do futebol nacional?
RG: Recordo-me principalmente de encontrar além de bons jogadores grandes homens! Fiz muitas amizades pelos clubes por onde passei. Em termos de futebol propriamente dito é muito complicado jogar nesses escalões. Quase sempre se pratica um futebol pouco atractivo onde a bola anda na maior parte das vezes no ar e onde predomina o contacto físico. Tenho a certeza que muitos jogadores na Primeira Liga de Portugal dificilmente conseguiriam adaptar-se a uma 3ª Divisão.

RF: Nas 2ª e 3ª divisões, e até mesmo nos escalões distritais, encontram-se jovens portugueses com muito talento, que no entanto não são aproveitados nas ligas profissionais, onde a massificação de estrangeiros é cada vez mais saliente. No seu entender porque é que se verifica ano após ano este cenário, isto, quando o jogador português é cada vez mais apreciado e requisitado pelo Mundo fora?
RG: Sim, é um facto que nestas divisões encontramos jogadores com muito talento. Mas como se sabe em Portugal é muito difícil algum clube – das ligas profissionais – apostar num jovem português. Entre um jovem português e, por exemplo, um jovem brasileiro os clubes não têm a mínima dúvida em apostar no brasileiro. É um pequeno exemplo do que se passa hoje em dia no futebol em Portugal. Acho que está na altura de os nossos clubes mudarem a mentalidade e darem o verdadeiro valor ao jogador português.

RF: Face a este panorama pretende continuar a trabalhar no estrangeiro ou ao invés disso tentar a sorte e quem sabe arranjar um espaço no primeiro nível do futebol luso?
RG: Por enquanto penso em continuar pelo estrangeiro, mas se surgir um bom convite de uma equipa dos escalões profissionais de Portugal é algo a pensar.

RF: E a selecção nacional, sonha em vestir aquela camisola mesmo estando a actuar numa liga menos competitiva e quase desconhecida por cá?
RG: Todos temos esse sonho, mas tenho consciência que é uma meta quase impossível de atingir. Sinceramente não penso nisso no dia-a-dia, prefiro concentrar-me em dar o próximo passo que será conseguir chegar a uma liga maior e mais competitiva.

RF: Para terminar, que outros sonhos tem o Rúben Gravata na cabeça por estas alturas?
RG: Não digo sonhos, mas como disse na resposta anterior tenho a ambição de chegar a uma liga maior e mais competitiva. E porque não chegar a um grande da Europa?

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

ENTREVISTA - David da Costa: Um guarda-redes com sangue lusitano a triunfar no futebol suíço

Aos 24 anos é uma das grandes revelações da Superliga da Suíça da temporada em curso. Filho de emigrantes portugueses nasceu em Zurique e foi nesta mesma cidade que deu os primeiros passos no mundo da bola.
“Detentor” de dupla nacionalidade sonha por esta altura com as camisolas da selecção nacional portuguesa – embora tenha já sido chamado em 4 ocasiões à equipa nacional suíça de sub-18 – e do... FC Porto, o emblema do seu coração.
Entre sonhos e ambições vive com alegria um presente marcado por uma estreia auspiciosa no principal escalão do futebol helvético.
Nas próximas linhas, e na primeira pessoa, David da Costa, guarda-redes titular – indiscutível – do FC Thun, recorda o passado, retrata o presente, e imagina o futuro numa entrevista concedida à REVISTA FUTEBOLISTA



Revista Futebolista (RF): Nascido na Suíça, filho de emigrantes portugueses, o David cresceu num país onde o futebol não é vivido de uma forma tão intensa como o é em Portugal, por exemplo. Como foi por isso a sua aproximação à modalidade numa terra onde ela não é tão popular, digamos assim...
David da Costa (DdC): Antes do mais devo dizer que sempre tive paixão pelo futebol. Para qualquer lado que fosse levava sempre uma bola atrás. Aos 5 anos o meu pai inscreveu-me nas camadas jovens do FC Zurich, clube em que fiz toda a minha formação até aos 18 anos. Dizer aliás que os meus pais sempre me acompanharam ao longo de toda a minha carreira, eles são os meus fãs mais leais.
Depois de ter passado por todos os escalões do FC Zurich assinei com este mesmo clube o meu primeiro contrato de profissional. Tinha na altura 18 anos. Por esta altura já havia sido chamado por 4 vezes à selecção de sub-18 da Suíça.

RF: Com 18 anos e numa equipa de topo da Suíça deve ter sido difícil a sua chegada ao futebol sénior...
DdC: Eu cheguei à equipa principal do FC Zurich em 2005, que na altura tinha dois ou três guarda-redes além de mim. Até 2008, ano em que terminei contrato, o clube venceu dois campeonatos nacionais da 1ª Divisão, embora eu não tenha feito um único jogo pela equipa principal. Joguei sim perto de meia centena de vezes na equipa “b” do FC Zurich, na 3ª Divisão Nacional.
Em 2007/08 fui emprestado por 6 meses ao Chiasso, da 2ª Divisão. Na temporada seguinte (2008/09), depois de ter saído do FC Zurich, assinei um contrato de dois anos com outra equipa da 2ª Divisão, o Concordia de Basileia onde fiz apenas metade da época como titular, pois estive lesionado durante toda a 1ª volta do campeonato.
Até que na época passada o Concordia foi à falência, pelo que tive que procurar uma nova equipa, tendo então optado por regressar ao Chiasso, que tinha acabado de descer da 2ª para a 3ª Divisão. Neste regresso fiz apenas 10 jogos, pois decidi sair do clube, já que achava que tinha qualidade para ir mais além e o Chiasso não poderia dar-me essa oportunidade.
Estive então algum tempo no desemprego, até que na recta final da época assinei pelo FC Wohlen, da 2ª Divisão, tendo feito 10 jogos como titular, e desta forma ajudado a equipa a alcançar a manutenção.
Em Junho de 2010 assinei com o FC Thun um contrato de 3 épocas.

RF: Depois deste longo percurso pelos escalões secundários chegou à Superliga da Suíça – o equivalente à Liga Zon Sagres de Portugal –, podendo por isso considerar-se esta como a sua época de estreia ao mais alto nível, uma vez que no FC Zurich passou grande parte do tempo na equipa “b”. Não podemos pois deixar de lhe perguntar como está a correr a estreia entre os “grandes” da Suíça?
DdC: Está a correr muito bem. Até Dezembro – mês em que o campeonato fez a habitual pausa de inverno - fizemos 20 jogos, 18 para o campeonato e 2 para a taça, e eu fui titular nos 20. Mas sei também que tenho de trabalhar para continuar a ter o meu lugar na Superliga suíça.

RF: Por falar em campeonato, muita gente, sobretudo em Portugal, pois é o contexto em que estamos inseridos, desconhece a realidade da Superliga suíça. Que descrição nos faz sobre a principal liga do país onde nasceu?
DdC: O futebol suíço evoluiu bastante nos últimos anos. Os jogadores têm qualidade e como tal a liga é mais falada lá fora. Em termos de equipas, por exemplo, a Suíça tem tido boas prestações nas competições europeias, em particular na Liga dos Campeões, onde este ano esteve o Basileia.
Em termos de características o nível de jogo da Superliga é muito rápido, os jogadores são tecnicamente fortes e evoluídos, e eu posso testemunhar isso enquanto guarda-redes, já que é preciso estar concentrado durante todo o jogo, pois o mais pequeno erro pode ser fatal.

RF: Já agora, como se define enquanto guarda-redes?
DdC: Tenho bons reflexos, e jogo bem com os dois pés o que me facilita quando saio a jogar – em manobras ofensivas – com o resto da equipa. Além disso tenho um espírito combativo e considero-me bastante ambicioso.

RF: Já que fala em ambição, o FC Thun é um clube que ainda há bem pouco tempo andou nas bocas do Mundo por ter feito “a vida negra” ao Arsenal e ao Ajax na fase de grupos Liga dos Campeões da temporada de 2005/06. Depois disso desapareceu do mapa futebolístico, tendo passado as duas últimas épocas na 2ª Divisão. Quais são as vossas ambições para a actual época? (nota: actualmente o Thun está no 6º lugar com 23 pontos, a 10 do líder FC Lucerna)
DdC: O Thun é um clube com bom nome aqui na Suíça. É um clube familiar e toda a cidade nos acompanha. Somos uma equipa jovem que luta pela manutenção na Superliga, e até agora as coisas estão a correr bem. Temos de continuar neste ritmo para fugir às duas últimas posições da tabela (os lugares de despromoção), e se conseguirmos isso depressa tudo pode acontecer até ao final do campeonato.
Na taça estamos a dois jogos de atingir a final, uma vez que estamos nos quartos-de-final da competição, onde iremos encontrar o Neuchatel Xamax.

RF: Quais são em seu entender, e neste momento, os principais candidatos ao título de campeão suíço?
DdC: O Basileia, o FC Zurich, o Young Boys e o FC Lucerna.

RF: Tem dupla nacionalidade, e certamente como qualquer outro jovem espera um dia jogar ao mais alto nível internacional, isto é, representar uma selecção nacional numa grande competição. No seu caso qual a camisola que mais gostava de vestir, a da Suíça ou a de Portugal? E o porquê dessa sua escolha?
DdC. Portugal, sem dúvida, porque é o país das minhas origens. Gostaria muito um dia jogar em Portugal e mostrar o que valho ao povo português.

RF: Costuma acompanhar o campeonato português?
DdC: Desde pequeno que acompanho todos os anos o campeonato português.

RF: Qual é a opinião que tem sobre ele, e já agora como é que enquanto adepto analisa a actual temporada?
DdC: A liga portuguesa está seguramente entre as 6 melhores da Europa. Sobre esta época o FC Porto tem jogado um futebol muito bonito e muito consistente, com um treinador que me faz lembrar bastante o mítico José Mourinho. O Benfica está a melhorar, mas perdeu muitos pontos na fase inicial da época... pelo que julgo que o Porto vai acabar por ser campeão.

RF: Já disse que gostava de jogar em Portugal. Em tom de provocação, tem alguma preferência?
DdC: O meu sonho sempre foi jogar pelo FC Porto, o meu clube desde pequeno. Aliás, com 17 anos o meu pai levou-me a Portugal para treinar durante uma semana com a equipa “b” do Porto. Mas infelizmente acabei por não ficar. Contudo, sei que jogar por um grande de Portugal não é fácil, ainda para mais para alguém que vem da Superliga da Suíça. Por isso não me importava de jogar numa equipa mais pequena para poder ter mais oportunidades e mostrar o que valho.
Mas claro que o meu sonho é jogar pelo FC Porto, embora também saiba que como profissional nunca poderia dizer que não a outro clube grande.

RF: Voltando ao passado e à sua infância, quem foi o seu ídolo das balizas?
DdC: O meu ídolo sempre foi o Vítor Baía

RF: E para terminar esta conversa, qual é para si o actual melhor guardião do Mundo?
DdC: É difícil escolher apenas um, mas... talvez Manuel Neuer pelo talento, Gigi Buffon pela personalidade, e Edwin Van der Sar pelo carisma.