Com a luta
pelo título de Campeão Espanhol ao rubro no plano interno, Barcelona e Atlético
de Madrid viram a sorte europeia ditar o confronto directo na disputa dos
Quartos-de-Final da UEFA Champions League 2013/14.
Se por um
lado «El Tata» Martino aos comandos do Barcelona desde o início da temporada
ainda não conseguiu bater o Atlético Madrid ao longo dos noventa minutos de
jogo, «El Cholo» Simeone, por seis ocasiões desde que lidera os «colchoneros» -
sete com este encontro -, também ainda não logrou levar a melhor sobre a formação
«blaugrana».
Com os dados
a serem lançados sobre uma base de equilíbrio, rivalidade e orgulho de sangue
quente, Barcelona e Atlético de Madrid, encontraram-se em pleno Camp Nou para
discutirem a 1ª Mão destes Quartos-de-Final da Liga dos Campeões com duas
perspectivas europeias distintas: se o Barcelona procurava desde já vantagem
para atingir a sua sétima Meia-Final consecutiva na prova, já o Atlético de
Madrid, arredado de fases tão adiantadas da competição desde 1974, entrava em
campo com o objectivo principal de adiar ao máximo a decisão da eliminatória
para o jogo da 2ª Mão a ser disputado no Vicente Calderón.
Num jogo de
intensidade máxima e discutido ao milímetro, «El Tata» Martino e «El Cholo»
Simeone, viram o seu tango de equilíbrios resultar em mais um empate (1-1)
durante os noventa minutos.
Abaixo, o
registo de alguns dos momentos que marcaram o duelo espanhol nesta 1ª Mão dos
Quartos-de-Final da Liga dos Campeões 2013/14, com os golos do encontro a serem
apontados por Diego aos 56’ minutos para o Atlético de Madrid e por Neymar aos
71’ para o Barcelona.
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Como entrar a atacar sem bola?
Com os homens liderados por Diego Simeone a entrarem no
encontro de forma determinada, dando uma verdadeira lição de como atacar sem
bola, o Barcelona revelava grandes dificuldades para evitar os condicionamentos
impostos pelos «colchoneros» ainda na sua primeira fase de construção.
Da imagem acima resultou o primeiro calafrio da partida
para a baliza de Pinto, que sendo um guarda-redes pouco hábil no jogo de pés,
acabou por colocar a bola num adversário – mérito para os jogadores do Atlético
de Madrid que conscientes desse facto o procuraram explorar de imediato e
durante mais vezes ao longo do encontro:
Da imagem acima,
resultou nova perda de posse para o Barcelona, com Mascherano assustado a
preferir colocar a bola fora do rectângulo de jogo do que fazer o passe para o
seu Guarda-Redes.
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A Emboscada de «El Cholo»
Se o Barcelona revelava grandes dificuldades de
construção na sua saída apoiada e organizada ainda em primeira fase, o mesmo
acontecia em zonas mais adiantadas do terreno:
Repare-se por que zonas andavam Messi e Iniesta ainda não
estavam decorridos 9 minutos de jogo - Avançado e Médio Esquerdo de aproximação
ofensiva respectivamente e apenas no papel - tal o desconforto que as tropas de
«El Cholo» Simeone conseguiam criar aos homens do Barcelona na sua última fase
de construção.
O Barcelona tentava criar soluções, mas sempre sem
conseguir ter presença efectiva entrelinhas, muito por culpa do verdadeiro
exército armado e de ajuste rápido que Diego Simeone mandou a jogo.
Repare-se na imagem abaixo, como com o seu bloco sempre
compacto, o Atlético de Madrid não permitia o mínimo de tempo e espaço aos
homens de Tata Martino para no seu novo estilo «tiki-tata», conseguirem fazer
jogo nas imediações da Grande-Área adversária:
Nota: Da
imagem acima resultou perda de bola de Iniesta e Transição Ofensiva Rápida
lançada pelo Atlético de Madrid, apenas travada já depois da linha de
Meio-Campo e numa altura que Diego Costa, ainda em jogo, se preparava para
criar muito perigo com as suas cavalgadas típicas rumo às redes contrárias.
Jogo muito difícil para o Barcelona com mérito total para
os homens do Atlético de Madrid, sempre muito intensos e disciplinados em Organização
Defensiva:
E sempre preparados para lançarem as suas Transições
Ofensivas Rápidas e venenosas:
Dois segundos depois do momento acima e apesar do passe
não ter entrado no «timing», repare-se como a equipa se desdobra a grande
velocidade e com toda a naturalidade:
Muito confortável a defender e a atacar sem bola, o
Atlético de Madrid fez uma primeira parte absolutamente assombrosa a vários
níveis:
No tempo de descontos da primeira parte, a atitude e
personalidade de jogo delineada e imposta aos seus jogadores por Diego Simeone,
continuava intacta, num padrão que se manteve durante todo o encontro:
Bola recuperada na imagem acima, entretanto novamente
perdida e o Atlético de Madrid sempre consciente do que está a fazer, obrigando
o Barcelona a fazer o que não sabe:
Primeira parte verdadeiramente digna do melhor futebol do
planeta colocando frente-a-frente duas filosofias completamente antagónicas de
abordagem ao jogo e onde ainda houve a registar duas baixas de vulto por lesão:
Piqué para o lado do Barcelona e Diego Costa para o lado do Atlético de Madrid
– duas figuras extremamente importantes na manobra de ambas as equipas que
tiveram em Bartra e Diego, respectivamente, substitutos à altura.
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«Com licença Sr.Árbitro, queremos jogar.»
Com a etapa complementar a iniciar-se dentro do mesmo
registo e padrão com que havia terminado o primeiro tempo:
Neymar parecia querer praia e perdeu a bola, para no
seguimento da jogada e como forma de alusão aos grandes problemas e consecutivo
desnorte que a equipa do Atlético de Madrid provocava ao Barcelona, repare-se
como inclusivamente o árbitro da partida não tinha autorização para se
desmarcar – falta feia de Fábregas sobre Felix Brych com Xavi na cobertura:
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«Porque é que não passaste a bola, Diego?»
Diego não passou a bola porque achou que ia fazer golo,
um grande golo.. e fez.
Numa altura em que existe uma certa tendência geral, no
que a treinadores diz respeito, para se sobrevalorizar a «decisão inteligente»,
a «decisão mais eficaz», a «melhor decisão», conceitos e calões muitas vezes
tão abstractos quanto a complexidade de um jogo de futebol, referência para
génios técnicos, jogadores pouco inteligentes ou até burros, loucos ou cambados,
ignorantes ou ingénuos - são eles que muitas vezes da ligeireza da sua
simplicidade e inocência dão ao Mundo e às suas equipas momentos como aquele
que fez Camp Nou silenciar ecos de arrogância – o burro também pode ser genial,
porque no futebol, ser inteligente, até pode significar ganhar mais, mas não
faz ganhar sempre e, desta feita, quem ganhou, foi mesmo o burro – burro por
acreditar e conseguir para gáudio de qualquer adepto que se preze.
Porque o Mundo do futebol é grande e existe espaço para
todos, nota, também, para a inteligência de um génio, que por ser genial, faz
os outros parecerem 'burros':
Num dos poucos ou talvez no único erro pouco forçado que
a linha defensiva do Atlético de Madrid cometeu ao longo do encontro, Miranda
distraiu-se em primeira instância e por um mero instante com o movimento de
Messi, Juanfran por seu turno andou a brincar ao «apanha-apanha» com Neymar
durante o momento precedente, para na fase em que retrata a imagem não entender
nada do que estava prestes a acontecer, Iniesta não pediu licença e com um
passe só ao alcance de visionários ou elementos intelectualmente evoluídos a
lerem o jogo, aproveitou para deitar por terra uma estratégia colectiva «colchonera»
que até aos 70 minutos havia surtido os seus efeitos na plenitude – mérito
igualmente para a forma astuta como Neymar entendeu a desmarcação sem bola.
Duas das situações mais perigosas de toda a partida
resultaram de tomadas de decisão praticamente idênticas e que a maioria dos
treinadores colocaria em causa – são elas que muitas vezes destrancam
verdadeiros cadeados tácticos:
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Contraproducência Blaugrana Vs Conforto Colchonero
Com o Barcelona a evidenciar sempre grande desconforto
perante o jogo efectuado pelo Atlético de Madrid, não raras vezes, foi possível
observar a turma de «Tata» Martino recorrer a alternativas contraproducentes
com a génese do seu modelo e estratégia de jogo:
E quando até um elemento da categoria de Xavi recorria a
soluções básicas, o mérito do Atlético de Madrid sem bola a provocar desespero
criativo ao Barcelona com bola, ficava bem evidenciado:
Situação apenas alterada com o golo de Neymar, em que o
Barcelona em desvantagem na eliminatória e a correr atrás do prejuízo, procurou
num último fôlego evitar males maiores ou passar para a
frente do embate:
Importante na criação de uma nova dinâmica ofensiva para
o Barcelona a entrada de Alexis Sánchez em jogo:
Se o Barcelona durante grande parte do encontro
evidenciou desconforto com os condicionamentos e constrangimentos provocados
pelo Atlético de Madrid, repare-se a forma confortável e completamente
identificada com as ideias e estratégia de jogo da equipa que os jogadores
«colchoneros» chegavam ao final da partida:
Numa imagem típica de final de encontro, muitas vezes
observada após o apito final do árbitro, atente-se como o jogo ainda não havia
terminado e os jogadores do Atlético festejavam cortes e anulações de jogadas
de perigo do Barcelona como se de golos para a sua equipa se tratassem –
mérito, muito mérito para «Cholo» Simeone que consegue passar na plenitude as suas ideias para os seus jogadores e fazer
com que os mesmos as defendam até à exaustão – morrendo se necessário for.
Não se trata de pensar pequeno, trata-se, antes, de fazer
com que os outros pensem menos e com menos tempo.
Com novo encontro marcado para daqui a uma semana no
Vicente Calderón, fica a expectativa daquilo que poderá acontecer na segunda
parte desta eliminatória – por enquanto, é o Atlético de Madrid que sai na
frente fruto do golo alcançado em Camp Nou.
Em colaboração com: TF Scouting
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