quarta-feira, 2 de abril de 2014

«EL TATA Y EL CHOLO»: O Tango do Equilíbrio


Com a luta pelo título de Campeão Espanhol ao rubro no plano interno, Barcelona e Atlético de Madrid viram a sorte europeia ditar o confronto directo na disputa dos Quartos-de-Final da UEFA Champions League 2013/14.
Se por um lado «El Tata» Martino aos comandos do Barcelona desde o início da temporada ainda não conseguiu bater o Atlético Madrid ao longo dos noventa minutos de jogo, «El Cholo» Simeone, por seis ocasiões desde que lidera os «colchoneros» - sete com este encontro -, também ainda não logrou levar a melhor sobre a formação «blaugrana».
Com os dados a serem lançados sobre uma base de equilíbrio, rivalidade e orgulho de sangue quente, Barcelona e Atlético de Madrid, encontraram-se em pleno Camp Nou para discutirem a 1ª Mão destes Quartos-de-Final da Liga dos Campeões com duas perspectivas europeias distintas: se o Barcelona procurava desde já vantagem para atingir a sua sétima Meia-Final consecutiva na prova, já o Atlético de Madrid, arredado de fases tão adiantadas da competição desde 1974, entrava em campo com o objectivo principal de adiar ao máximo a decisão da eliminatória para o jogo da 2ª Mão a ser disputado no Vicente Calderón.
Num jogo de intensidade máxima e discutido ao milímetro, «El Tata» Martino e «El Cholo» Simeone, viram o seu tango de equilíbrios resultar em mais um empate (1-1) durante os noventa minutos.
Abaixo, o registo de alguns dos momentos que marcaram o duelo espanhol nesta 1ª Mão dos Quartos-de-Final da Liga dos Campeões 2013/14, com os golos do encontro a serem apontados por Diego aos 56’ minutos para o Atlético de Madrid e por Neymar aos 71’ para o Barcelona.
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Como entrar a atacar sem bola?


Com os homens liderados por Diego Simeone a entrarem no encontro de forma determinada, dando uma verdadeira lição de como atacar sem bola, o Barcelona revelava grandes dificuldades para evitar os condicionamentos impostos pelos «colchoneros» ainda na sua primeira fase de construção.
Da imagem acima resultou o primeiro calafrio da partida para a baliza de Pinto, que sendo um guarda-redes pouco hábil no jogo de pés, acabou por colocar a bola num adversário – mérito para os jogadores do Atlético de Madrid que conscientes desse facto o procuraram explorar de imediato e durante mais vezes ao longo do encontro:

Da imagem acima, resultou nova perda de posse para o Barcelona, com Mascherano assustado a preferir colocar a bola fora do rectângulo de jogo do que fazer o passe para o seu Guarda-Redes.
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A Emboscada de «El Cholo»

Se o Barcelona revelava grandes dificuldades de construção na sua saída apoiada e organizada ainda em primeira fase, o mesmo acontecia em zonas mais adiantadas do terreno:

Repare-se por que zonas andavam Messi e Iniesta ainda não estavam decorridos 9 minutos de jogo - Avançado e Médio Esquerdo de aproximação ofensiva respectivamente e apenas no papel - tal o desconforto que as tropas de «El Cholo» Simeone conseguiam criar aos homens do Barcelona na sua última fase de construção.

O Barcelona tentava criar soluções, mas sempre sem conseguir ter presença efectiva entrelinhas, muito por culpa do verdadeiro exército armado e de ajuste rápido que Diego Simeone mandou a jogo.
Repare-se na imagem abaixo, como com o seu bloco sempre compacto, o Atlético de Madrid não permitia o mínimo de tempo e espaço aos homens de Tata Martino para no seu novo estilo «tiki-tata», conseguirem fazer jogo nas imediações da Grande-Área adversária:

Nota: Da imagem acima resultou perda de bola de Iniesta e Transição Ofensiva Rápida lançada pelo Atlético de Madrid, apenas travada já depois da linha de Meio-Campo e numa altura que Diego Costa, ainda em jogo, se preparava para criar muito perigo com as suas cavalgadas típicas rumo às redes contrárias.

Jogo muito difícil para o Barcelona com mérito total para os homens do Atlético de Madrid, sempre muito intensos e disciplinados em Organização Defensiva:

E sempre preparados para lançarem as suas Transições Ofensivas Rápidas e venenosas:

Dois segundos depois do momento acima e apesar do passe não ter entrado no «timing», repare-se como a equipa se desdobra a grande velocidade e com toda a naturalidade:

Muito confortável a defender e a atacar sem bola, o Atlético de Madrid fez uma primeira parte absolutamente assombrosa a vários níveis:

No tempo de descontos da primeira parte, a atitude e personalidade de jogo delineada e imposta aos seus jogadores por Diego Simeone, continuava intacta, num padrão que se manteve durante todo o encontro:

Bola recuperada na imagem acima, entretanto novamente perdida e o Atlético de Madrid sempre consciente do que está a fazer, obrigando o Barcelona a fazer o que não sabe:

Primeira parte verdadeiramente digna do melhor futebol do planeta colocando frente-a-frente duas filosofias completamente antagónicas de abordagem ao jogo e onde ainda houve a registar duas baixas de vulto por lesão: Piqué para o lado do Barcelona e Diego Costa para o lado do Atlético de Madrid – duas figuras extremamente importantes na manobra de ambas as equipas que tiveram em Bartra e Diego, respectivamente, substitutos à altura.
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«Com licença Sr.Árbitro, queremos jogar.»

Com a etapa complementar a iniciar-se dentro do mesmo registo e padrão com que havia terminado o primeiro tempo:

Neymar parecia querer praia e perdeu a bola, para no seguimento da jogada e como forma de alusão aos grandes problemas e consecutivo desnorte que a equipa do Atlético de Madrid provocava ao Barcelona, repare-se como inclusivamente o árbitro da partida não tinha autorização para se desmarcar – falta feia de Fábregas sobre Felix Brych com Xavi na cobertura:

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«Porque é que não passaste a bola, Diego?»


Diego não passou a bola porque achou que ia fazer golo, um grande golo.. e fez.
Numa altura em que existe uma certa tendência geral, no que a treinadores diz respeito, para se sobrevalorizar a «decisão inteligente», a «decisão mais eficaz», a «melhor decisão», conceitos e calões muitas vezes tão abstractos quanto a complexidade de um jogo de futebol, referência para génios técnicos, jogadores pouco inteligentes ou até burros, loucos ou cambados, ignorantes ou ingénuos - são eles que muitas vezes da ligeireza da sua simplicidade e inocência dão ao Mundo e às suas equipas momentos como aquele que fez Camp Nou silenciar ecos de arrogância – o burro também pode ser genial, porque no futebol, ser inteligente, até pode significar ganhar mais, mas não faz ganhar sempre e, desta feita, quem ganhou, foi mesmo o burro – burro por acreditar e conseguir para gáudio de qualquer adepto que se preze.
Porque o Mundo do futebol é grande e existe espaço para todos, nota, também, para a inteligência de um génio, que por ser genial, faz os outros parecerem 'burros':

Num dos poucos ou talvez no único erro pouco forçado que a linha defensiva do Atlético de Madrid cometeu ao longo do encontro, Miranda distraiu-se em primeira instância e por um mero instante com o movimento de Messi, Juanfran por seu turno andou a brincar ao «apanha-apanha» com Neymar durante o momento precedente, para na fase em que retrata a imagem não entender nada do que estava prestes a acontecer, Iniesta não pediu licença e com um passe só ao alcance de visionários ou elementos intelectualmente evoluídos a lerem o jogo, aproveitou para deitar por terra uma estratégia colectiva «colchonera» que até aos 70 minutos havia surtido os seus efeitos na plenitude – mérito igualmente para a forma astuta como Neymar entendeu a desmarcação sem bola.
Duas das situações mais perigosas de toda a partida resultaram de tomadas de decisão praticamente idênticas e que a maioria dos treinadores colocaria em causa – são elas que muitas vezes destrancam verdadeiros cadeados tácticos:

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Contraproducência Blaugrana Vs Conforto Colchonero


Com o Barcelona a evidenciar sempre grande desconforto perante o jogo efectuado pelo Atlético de Madrid, não raras vezes, foi possível observar a turma de «Tata» Martino recorrer a alternativas contraproducentes com a génese do seu modelo e estratégia de jogo:




E quando até um elemento da categoria de Xavi recorria a soluções básicas, o mérito do Atlético de Madrid sem bola a provocar desespero criativo ao Barcelona com bola, ficava bem evidenciado:

Situação apenas alterada com o golo de Neymar, em que o Barcelona em desvantagem na eliminatória e a correr atrás do prejuízo, procurou num último fôlego evitar males maiores ou passar para a frente do embate:

Importante na criação de uma nova dinâmica ofensiva para o Barcelona a entrada de Alexis Sánchez em jogo:

Se o Barcelona durante grande parte do encontro evidenciou desconforto com os condicionamentos e constrangimentos provocados pelo Atlético de Madrid, repare-se a forma confortável e completamente identificada com as ideias e estratégia de jogo da equipa que os jogadores «colchoneros» chegavam ao final da partida:

Numa imagem típica de final de encontro, muitas vezes observada após o apito final do árbitro, atente-se como o jogo ainda não havia terminado e os jogadores do Atlético festejavam cortes e anulações de jogadas de perigo do Barcelona como se de golos para a sua equipa se tratassem – mérito, muito mérito para «Cholo» Simeone que consegue passar na plenitude  as suas ideias para os seus jogadores e fazer com que os mesmos as defendam até à exaustão – morrendo se necessário for.
Não se trata de pensar pequeno, trata-se, antes, de fazer com que os outros pensem menos e com menos tempo.

Com novo encontro marcado para daqui a uma semana no Vicente Calderón, fica a expectativa daquilo que poderá acontecer na segunda parte desta eliminatória – por enquanto, é o Atlético de Madrid que sai na frente fruto do golo alcançado em Camp Nou.

Em colaboração com: TF Scouting

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