segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ao raio X: Zenit de AVB

A um conjunto capaz composto por vários elementos que transitam da era Spaletti, André Villas-Boas procura acrescentar maior consistência a nível defensivo, não descurando no entanto um futebol vertical que potencia as características do leque de jogadores à disposição. O seu antecessor não resistiu à divisão do balneário provocada pela oposição a algumas políticas tomadas pelo clube no mercado, algo com reflexo nas prestações da equipa e que teve como principal manifestação a saída de um homem da casa: Igor Denisov. Agora, depois das experiências falhadas em terras de “sua Majestade”, o sucessor português ambiciona provar em território russo que o sucesso ao leme do FC Porto não foi uma mera casualidade.


Por: Afonso Canavilhas



Qualidade na saída, entrega com critério, postura confortável com bola e criatividade no momento ofensivo, dando azo tanto à explosão de Hulk pelo flanco, - ou procurando o típico desvio para uma zona mais central a fim de alvejar a baliza - sem esquecer a importância do criativo Danny na manobra. Assim se define, em traços gerais, o Zenit de André Villas-Boas, que lidera o campeonato russo somando todos os jogos por vitórias antes de visitar a Luz. Num ano em que a crítica assume que o campeonato russo está mais fraco, a equipa de São Petersburgo procura singrar na Europa.

A qualidade na primeira fase de construção é garantida por jogadores fortes na saída e tecnicamente bons. Garay – curiosamente a jogar mais descaído sobre a direita – e Witsel, bem conhecidos do público português, são elementos essenciais na manobra. O argentino é um central de fino recorte técnico, preciso no passe, com grande taxa de sucesso que é já um elemento fulcral no sector. Conta com a companhia do duro Lombaerts no eixo, que tem jogado com mais regularidade que Neto. Antes de mais, importa também falar do guarda-redes Lodygin, que embora tenha os seus defeitos e falhas pontuais, se trata de um atleta em quem o ataque do Benfica encontrará uma grande barreira.

Witsel é um jogador que pega bem no jogo a partir de trás, forte em progressão e exímio na proteção do esférico. Para as posições “6” e “8”, note-se a qualidade das soluções (Witsel, Tymoshchuk, Fayzulin, Javi Garcia) que Villas Boas tem à sua disposição, constituindo uma incógnita a forma como moldará o meio-campo na Liga dos Campeões. A dúvida andará entre o 4x3x3 e o 4x2x3x1.



Hipótese 1: AVB pode apostar em Tymoshchuk como homem mais recuado do trio do meio-campo, fazendo com que o ucraniano se defina como um “6”, e dando maior liberdade aos dois interiores - 4x3x3. Com a chegada de Javi Garcia, o espanhol poderá também assumir esse papel.

Hipótese 2: Para a nova época, Villas Boas tem vindo a apostar de forma intermitente num duplo pivot, recuperando uma estratégia que já havia sido utilizado por parte do seu antecessor. Com Javi Garcia e Witsel, ambos ex-Benfica, não será de estranhar que na prova milionária, em testes de maior exigência, o técnico português opte por reeditar esta dupla. Um homem mais preso, forte no desarme, e outro mais solto. Não seria novidade, visto que já realizou esta experiência com Witsel e Fayzulin na segunda mão do “play-off” de acesso à Liga dos Campeões, jogo em que curiosamente o atleta russo acabou expulso.

Para  desempenhar função de armador de jogo, Villas Boas tem duas soluções: Uma é o português Danny, e a outra Shatov. Ambos podem jogar numa zona mais interior ou descaídos sobre uma das alas. Danny é um jogador tecnicamente superior, inteligente. Shatov é um também um bom jogador de equipa, bastante trabalhador, um operário dentro das quatro linhas. Elementos valorosos em transição.



O Zenit possui dois laterais influentes na manobra ofensiva, destacando o envolvimento de Criscito, que ataca mais e com maior critério agora às ordens de Villas Boas. Smolnikov, embora jogue preferencialmente pela direita, pode também atuar do lado contrário, como aconteceu por exemplo diante do Amkar Perm, na 5ª jornada da liga russa. Essencialmente ofensivo, deixa muito espaço nas costas e daí AVB ter desviado Garay para a direita. A opção tem recaído sobre Smolnikov, mas no banco existe uma alternativa totalmente credível: Anyukov, experiente lateral  que embora não tenha o fulgor de outrora, é superior defensivamente e poderá ser aposta. O internacional russo é uma das opções mais viáveis no banco de AVB, que peca por ser algo “curto” para as exigências de uma desgastante temporada.

Hulk é um dos indiscutíveis no onze inicial, jogador que dispensa apresentações. Na banda contrária, a opção varia consoante o desafio. Shatov ou Danny, como já foi referenciado atrás, são as principais soluções, andando nesta dança entre o miolo e o flanco. Não sendo extremos com a natural tendência de irem à linha para cruzar, mesmo quando jogam mais sobre a ala, existe esse ímpeto natural de fletir para o meio, apoiando o ponta-de-lança a partir de zonas interiores. O Zenit não é, por isso, uma equipa que explore muito em profundidade. O mediático Arshavin, em fase descendente na carreira, aparece na sombra dos dois jogadores.

Relegando Kherzhakov para o banco, Rondón está diferente, ganhou nova vida em campo. O venezuelano está mais jogador. Movimenta-se de forma mais inteligente, melhorou a noção dos espaços que tem que ocupar em campo, e isso traduz-se evidentemente nos números que apresenta.
O Zenit é uma equipa que privilegia a posse, André Villas Boas gosta que as suas equipas procurem dominar o jogo tendo por base a gestão da posse, embora muitas vezes haja alguma precipitação no último terço do campo. Sem ela, a equipa organiza-se num 4x5x1. Os extremos recuam para dar consistência ao sector intermediário, aproximando linhas e deixando Rondón isolado na frente. O Zenit procura desta forma controlar a largura. Não obstante, apresenta algumas debilidades, como por exemplo a reação à perda de bola. Os laterais – sobretudo Smolnikov – tendem a deixar algum espaço nas costas, e talvez por aí Villas Boas tenha (tal como já foi referido) desviado Garay para a direita, protegendo-lhe com maior rigor as costas. O Zenit é algo lento em transição defensiva, e os adversários procuram muitas vezes jogar pelos flancos, em profundidade.




De resto, embora seja praticamente consensual que a equipa de São Petersburgo tem o melhor onze do campeonato, o plantel, no cômputo geral, poderá não estar à altura daquilo que se exige a uma equipa inserida na realidade competitiva do Zenit. AVB tem um banco algo envelhecido, que não responderá a todas as necessidades de uma época que se afigura desgastante, embora tenha a pausa que se conhece. Passou num teste de elevada exigência no último fim-de-semana, com vitória sobre o Dínamo em cima da hora. Agora, na Luz, terá aquele que é muito provavelmente o desafio de maior dificuldade até à data na presente temporada. 

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