Infelizmente, por influência do trânsito e coisas que mais,
só assisti à segunda-parte do jogo da selecção A de Portugal. Aquilo que se
adivinhava como o jogo mais complicado da nossa selecção no apuramento para o
Mundial de 2014, acabou por se tornar num dos jogos mais azarentos de sempre.
Aos 4 minutos, uma perda de bola infantil permite à Rússia
passar para a frente do marcador depois de uma desmarcação venenosa de Kerzhakov.
Rúben Micael, no cumprimento do seu quinto jogo como titular, entregou a bola
ao adversário e, numa questão de segundos, a Rússia conseguiu fazer aquilo que
Portugal tanto tentou durante os praticamente 85 minutos restantes.
Minutos depois, Coentrão, aquele defesa esquerdo raçudo que
nos levanta das cadeiras nos ataques combinados com C. Ronaldo, sai lesionado e
junta-se a Raul Meireles, obrigando P. Bento a “inventar” um defesa esquerdo.
Miguel Lopes saltou do banco praticamente sem aquecer e entrou num jogo cuja
primeira parte já fazia temer o pior.
Tudo isto depois da constante preocupação com C. Ronaldo e
J. Pereira durante a semana antecedente.
Mas não bastassem as adversidades acima mencionadas, ainda
havia um campo sintético com que nos preocuparmos. Habituados a relvados
naturais onde a bola corre sempre demais e quase nunca de menos, os jogadores
mostraram algumas dificuldades em se adaptarem a um sintético (que prende mais
a bola e os próprios pés dos jogadores), influenciando a táctica de P. Bento e
muitos dos ataques. Muitas bolas foram passadas com força demais numa tentativa
de desmarcação de um companheiro.
E que tem um(a) treinador(a) de bancada a dizer sobre isto?
Ponto 1: Rúben Micael. É, sem dúvida, um bom jogador, com
raça, mas ontem não era o seu dia e, como tal, devia ter sido substituído o
mais tardar ao intervalo. A meu ver foi um jogador a menos no meio campo e isso
permitiu muitos ataques por parte da Rússia, que preferiam atacar pelo meio.
Ponto 2: Ataque e meio campo. Com a substituição de Rúben
Micael, P. Bento poderia ter desde logo apostado num Portugal mais presente no
ataque, fazendo entrar Varela ou Éder. Varela, por seu lado, já tem fama de ser
a “arma secreta” da selecção e a equipa podia aproveitar um aumento de
confiança que o jogador podia trazer; Éder, por outro lado, tem sempre uma
forte presença na grande área adversária e consegue sempre segurar bem a bola e
ganhar algumas faltas preciosas que tanto jeito podiam ter dado à nossa
selecção. A equipa iria depois funcionar num 4-4-2 improvisado mas iria
usufruir de grande presença no meio campo e grande presença na área adversária.
Se, por outro lado, Bento preferisse manter Postiga sozinho na frente, Custódio
teria sido uma boa opção para o meio campo português, fazendo avançar Miguel
Veloso no campo.
O certo é que Varela lá entrou e nem isso funcionou.
Portugal estava num dia não e não marcava mesmo que jogasse toda a noite. C.
Ronaldo, muito por força do campo, também foi um jogador mais apagado, já que quase
nem ligou o turbo e, consequente, não nos presenteou com as suas habituais
arrancadas.
Para alguém que apenas viu os segundos 45 minutos, os
conselhos não são muitos, mas notou-se um Portugal que tentou e se esforçou (até
demais) para conseguir um bom resultado; tanto que, nos últimos minutos, já só
havia uma baliza no fundo do campo e todos queriam ter a sua oportunidade de
marcar e ser herói, muita vez esquecendo-se que o futebol é um jogo de equipa.
Por minha parte só tenho a apontar que é preciso prever algumas
situações quando se prepara um jogo. É inaceitável que Paulo Bento não tivesse
obrigado a equipa a treinar, durante a semana, num relvado sintético quando
sabia de antemão que o jogo se ia disputar num campo com as mesmas características.
Um treino não é suficiente para uma equipa se adaptar e quando já se tem a
temperatura como factor inimigo é bom termos também nós um trunfo para usar.
Com tantos relvados sintéticos ao longo do país, tenho a certeza que Bento iria
encontrar um que servisse à selecção. E isso poderia ter sido um factor
decisivo no jogo de ontem. Agora é aguardar o jogo contra a Irlanda do Norte e
trabalhar para que ainda possamos acabar líderes.
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