sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Último Reduto: Sport Eusébio e Benfica


Esta foi uma semana especial para o futebol português. 70 anos de Eusébio, uma data simbólica, com muitas memórias reavivadas daquele que é unanimemente considerado o maior desportista a alguma vez ostentar as quinas do nosso brasão.
Um aniversário é sempre motivo de celebração – e é apenas justo que não nos esqueçamos de exaltar a presença entre nós de um dos maiores expoentes do século XX futebolístico – mas no caso do “Pantera Negra”, ele serve também cada vez mais para nos recordar que chega sempre o dia em que o tempo, muitas vezes de braço dado com a doença, vem reclamar os nossos heróis. Assim foi com Amália e com Saramago, depois de tantos outros e antes de Eusébio. Que encontremos nisso motivo para o lembrar ainda mais em vida, pois teremos tempo de o chorar mais tarde.

Quero também reflectir sobre o seu comportamento ao longo dos anos, numa perspectiva que provavelmente reúne poucas simpatias, mas que creio fazer falta à compreensão do fenómeno Eusébio. Não oferece dúvida qual a sua preferência clubística, mas com o passar do tempo identifico-o como um instrumento ao serviço da fleuma benfiquista, em vez de um verdadeiro porta-estandarte do clube e, mais importante, de Portugal. Eusébio é – merecida e indiscutivelmente – um dos grandes símbolos do país, mas o seu posicionamento público não está à altura desse desígnio. Não me pergunto porquê – são claros o poder social do clube Benfica e as vantagens de fazer de Eusébio um apóstolo dos mandamentos de milhões de adeptos – mas parece-me tacanho e tipicamente português reduzir a grandeza do homem e do jogador a um clube.
Por outras palavras, Eusébio é dos benfiquistas, mas é acima de tudo património da nação portuguesa. E Portugal não é Benfica. O que terão a dizer os sportinguistas quando o ouvem chamar ao seu clube “racista”? E em Aveiro, o que se pensa de Eusébio depois de afirmar, encarnado de orgulho, não ter chutado sequer à baliza do Benfica quando defendia as cores do Beira-Mar? A alguém que adquire a dimensão de símbolo do desporto nacional pede-se mais respeito e fair-play, e um comportamento mais condigno na relação com os clubes e os seus adeptos.

Meu caro Eusébio, acho que és hoje muito menos do que deverias ser. Prefiro ver-te a preto e branco, e recordar-te dos tempos em que eras apenas “um jogador da bola”.

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