A venda de Ramires ao Benfica nem levantou grandes 'ondas' junto dos adeptos do Cruzeiro, que já estavam mais ou menos preparados para ver partir um dos seus craques, mas mesmo assim, o presidente do clube brasileiro, Zezé Perella, decidiu escrever uma carta dirigida à 'torcida' cruzeirense, onde explica os detalhes do negócio e alguns pormenores da sua gestão (muito boa, por sinal) à frente do emblema mineiro.
Uma missiva que vale a pena ler na íntegra e que, além de demostrar bem o porquê de o Cruzeiro ser dos clubes mais vitoriosos da América do Sul, é também um bom exemplo, a vários níveis, para alguns dirigentes do futebol português.
Uma missiva que vale a pena ler na íntegra e que, além de demostrar bem o porquê de o Cruzeiro ser dos clubes mais vitoriosos da América do Sul, é também um bom exemplo, a vários níveis, para alguns dirigentes do futebol português.
Carta de Zezé Perella aos adeptos do Cruzeiro:
«Caro adepto,
tomar a decisão de vender o médio Ramires não foi uma tarefa nada fácil. Durante um ano, o Cruzeiro recebeu dezenas de sondagens de clubes da Europa e do Japão para negociar o jogador. Na reabertura do mercado europeu da temporada de 2008/2009, o Lokomotiv, da Rússia, chegou a fazer uma proposta igualmente de 7,5 milhões de euros, mas Ramires entendeu que ainda não era o momento de pensar numa transferência. A vontade do atleta foi respeitada e fizemos um planeamento para ter o nosso craque em toda a Libertadores deste ano.
Há algumas semanas, outros clubes voltaram a procurar o Cruzeiro com o mesmo interesse, mas apenas o Benfica, de Portugal, veio a Belo Horizonte com uma proposta oficial. Na última terça-feira, iniciámos as conversas e chegamos à definição dos números. Faltava apenas o acerto do jogador com o clube português, o que aconteceu na quarta-feira à noite. Ramires e seus representantes também concluíram as conversas com o Benfica e entenderam que era a melhor opção para o jogador no momento.
Durante cinco dias, aguardei também a proposta que o CSKA, da Rússia, ficou de enviar para o Brasil, mas isso não se concretizou. Ao aceitar agora vender os direitos de Ramires por 7,5 milhões de euros, aproximadamente 22 milhões de reais (o Cruzeiro fez um acordo com o Joinville e ficou com 80% da transferência – cerca de 17 milhões de reais), levei ainda em consideração a serenidade que um presidente precisa ter à frente do clube. Manter os nossos compromissos em dia, salários sem atrasos e contas equilibradas tem sido nos últimos anos o segredo do Cruzeiro para a conquista de tantos títulos.
Mas em 2009, todos os clubes de futebol acabaram afectados pela crise económica mundial. Os adeptos têm acompanhado bem de perto a nossa dificuldade em conseguir um patrocinador 'master', o que nos levou a uma queda sensível nas receitas. Neste ano, 600 mil reais deixaram de entrar nos cofres do clube em cada mês.
Por outro lado, não medimos esforços em reforçar a equipa visando a disputa de várias competições. Comprámos o passe do avançado Wellington Paulista e do médio Fabrício, um ídolo dos adeptos. Para termos o 'gladiador' Kléber a vestir as nossas cores, abrimos mão de receber quase 12 milhões de reais na transferência do avançado Guilherme para o Dínamo de Kiev e renovámos o contrato do guarda-redes Fábio, outro antigo desejo dos adeptos. Altos investimentos foram feitos, mas precisamos pagar essa factura. Como todos, também gostaria de continuar a ver o 'guerreiro' Ramires eternamente no Cruzeiro, mas como qualquer gestor, tenho de pensar primeiro em administrar o clube com responsabilidade.
Nesta altura, optar por esperar mais alguns dias, semanas, meses e até temporadas para negociar um jogador com os valores milionários que obtivemos na transferência de Ramires para o Benfica, poderia representar um erro. Cabe ao presidente tomar as decisões e entendi que, perante o cenário mundial, o Cruzeiro estava a agir correctamente.
Nos últimos anos, o futebol tornou-se um desporto caro, repleto de estrelas e investimentos milionários. Para sobreviver com equipas em condições de lutar por títulos e manter os craques, só temos duas saídas: gerar receitas e mostrar competência na busca e formação de promessas. Diversos exemplos já demos nesse sentido e muitas vezes chegámos a ser incompreendidos. Em 2007, decidimos apostar num jovem, de apenas 19 anos, desconhecido, que jogava numa equipa da terceira divisão, acreditando que ele era uma grande promessa. Ao anunciar a sua contratação, sofremos uma enxurrada de críticas. O nome dele? Ramires Santos do Nascimento.
Um abraço
Zezé Perrella»
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