A saída de Vítor Pereira do comando técnico do FC Porto já era expectável desde Dezembro passado (ou se calhar antes). A verdade é que, apesar das conquistas, o futebol de posse que o treinador implementou no clube e lhe valeu dois títulos nacionais e apenas uma derrota em dois anos, nunca chegou para convencer os exigentes adeptos portistas que, em boa verdade, tão depressa se sentiam empolgados com as maravilhosas exibições de um FC Porto vs Málaga CF como de repente passavam meses de cabeça apoiada nas mãos, aborrecidos na bancada a assistir a uma posse de bola (com valores a rondar os 80%) que se traduzia em passes para o lado e para trás. Mesmo conseguindo ser campeão, houve dois pontos em que Vítor Pereira falhou sempre e a partir dos quais foi assinando o seu adeus ao clube: a gestão da equipa e a comunicação. A forma como o treinador geriu a equipa antes e durante os jogos nunca foi, na minha opinião, a mais correcta e isso custou ao FC Porto prestações fracas e saídas precoces em competições como a UEFA Champions League e a Taça de Portugal (ainda hoje os adeptos não perdoam a "queda" aos pés de Málaga CF e SC Braga, respectivamente). Também a comunicação do espinhense deixou muito a desejar e o seu discurso, principalmente nos momentos mais difíceis, passou, muitas vezes, por sacudir as culpas para terceiros, defendendo até ao limite os seus próprios erros sem nunca ter a capacidade para os assimilar e corrigir. Apesar de, contra todas as expectativas, ter chegado ao título nacional, nunca tive dúvidas de que Vítor Pereira não seria o treinador do FC Porto 2013/2014 e, facto curioso, no último jogo da época, aquando do abraço entre o treinador vencedor e Paulo Fonseca dei por mim a pensar na frase: "Passagem de testemunho". Quem diria?
Com a contratação de Paulo Fonseca, o FC Porto ganha, ou pelo menos pretende, juventude, irreverência e sangue novo. O antigo treinador do FC Paços de Ferreira é um homem de ideias novas, conceitos mais frescos e um amante do futebol espectáculo que empolga os adeptos mas atinge resultados (foi assim que pautou a sua passagem pela primeira liga). A equipa da capital do móvel encarou todos os oponentes olhos nos olhos independentemente do seu estatuto e valia, sem medos, sem se submeter ao poder de adversários teoricamente mais fortes (nunca usou o vulgar autocarro), com um futebol de grande qualidade e acima de tudo com objectivos cumpridos. O seu FC Paços de Ferreira apenas perdeu com os "monstros" FC Porto e SL Benfica, conseguindo uma histórica qualificação para a pré-eliminatória da UEFA Champions League. O jovem treinador foi capaz de colocar uma das equipas de orçamento mais baixo da liga (mas também uma das estruturas mais organizadas e competentes) no terceiro lugar do campeonato atrás dos crónicos candidatos ao título e à frente de equipas poderosas como SC Braga e Sporting CP. Mas o trabalho de Paulo Fonseca não se fica apenas pelos resultados desportivos e a forma como se dedica ao treino e aos seus jogadores é já uma imagem de marca e um factor de aproximação entre treinador e atletas. A recuperação de talentos "quase" perdidos foi um dos seus grandes méritos durante a temporada, com o caso de Josué a tornar-se no mais mediático. O miúdo formado no FC Porto, conhecido como jovem rebelde e indisciplinado, tornou-se de repente um jogador de equipa, capaz de aliar as suas enormes capacidades técnicas a uma postura digna de profissional. Foi uma mudança radical num dos maiores talentos do futebol português, que agora acompanhará o treinador a caminho do Dragão.
Paulo Fonseca foi sem dúvida a grande revelação da época. Mas será que isso chega para triunfar no FC Porto? Só o tempo dirá.
Esta é mais uma aposta de risco de Jorge Nuno Pinto da Costa, num treinador jovem, de grande qualidade, com novas ideias, novas formas de pensar o jogo, ambicioso e de discurso inteligente. Paulo Fonseca tem tudo para vencer no FC Porto mas ao mesmo tempo tem tudo para perder. O seu futuro vai depender de si próprio, da sua adaptação a uma realidade muito distinta, da sua adaptação a uma nova casa com obrigações e objectivos muito bem definidos, da sua capacidade para lidar com o enorme ego de jogadores de classe mundial e com a pressão e exigência dos adeptos. Treinar o FC Porto não é, nem de perto nem de longe, a mesma coisa que treinar o FC Paços de Ferreira e Paulo Fonseca, como homem inteligente que é, deve ser o primeiro a perceber isso. Esse será, sem dúvida alguma, o primeiro passo para atingir o sucesso.