Metódico, eloquoente e visivelmente apaixonado pelo que faz. Fora dos bancos há um ano, Francisco Chaló espera pelo «convite certo» para regressar ao activo. Com uma vasta experiência nas divisões secundárias e em entrevista exclusiva à Revista Futebolista, o técnico natural de Ermesinde recorda a sua curta passagem pela Naval 1ª de Maio que, curiosamente, está agora sem treinador. O técnico de 46 anos apoia Paulo Bento, acredita num FC Porto campeão e realça a importância da segunda Liga no panorama futebolístico.
Revista Futebolista: Quando é que decidiu tornar-se treinador principal?
Revista Futebolista: Quando é que decidiu tornar-se treinador principal?
Francisco Chaló: Penso que não é apenas uma questão meramente decisória, mas sim o culminar de um processo que engloba várias vertentes. Mas, talvez, o que mais pode ter pesado foi a oportunidade e a consciência do que se pretende conquistar.
RF: Treinou durante vários anos o Feirense, clube da terra onde reside. É uma acrescimo de paixão à profissão?
FC: Sim, há mais de 23 anos que resido em Santa Maria da Feira. Fiz cinco épocas no Feirense, ainda que alternadas. O convite surgiu e aceitei com toda a honra, mas a paixão no exercício das nossas funções como treinador é idêntica em qualquer clube, desde que a identificação seja perfeita.
RF: E como é que surgiu a oportunidade de treinar o Feirense?
FC: Surgiu depois de um trajecto de sete anos como treinador. O meu início foi em 1994, nos iniciados do Alfenense, mas na mesma época passei a treinar os seniores, que estavam numa situação difícil e que conseguimos ultrapassar. Passei pela prospecção do F.C. do Porto e estive no Pedras Rubras cinco épocas de boa memória, uma vez que subimos dos distritais até à II Divisão B.
RF: Para quando o regresso aos bancos? Teve alguma proposta desde que deixou o Feirense?
FC: Na nossa profissão temos de esperar, esperar pelos convites e esperar que as nossas decisões sejam as adequadas aos convites formulados. Tenho pautado a gestão do meu trajecto pelas convicções que me norteiam, o que, por vezes, me fazem não aceitar algumas propostas que, naturalmente, vão aparecendo. Esperemos que o convite certo apareça o mais rapidamente possível.
RF: O que é que falhou aquando da sua passagem na Naval?
FC: Não sei… Fiz uma equipa nova, empatamos com o Belenenses, que tinha sido finalista da Taça de Portugal, empatamos com o Setúbal que tinha vencido a Taça da Liga, perdemos fora com o Estrela e com o Benfica na Luz, num jogo em que o Quim foi o melhor em campo. Apesar de derrotados, todos deram os parabéns à equipa, toda a imprensa. Após o jogo da Luz eramos a equipa mais rematadora do campeonato e estávamos a um ponto de distância do Guimarães, que conseguiu a sua melhor classificação de sempre [2º classificado]. Atendendo a isso, tenho de dizer que não sei.
RF: A pré-época tinha corrido conforme desejado?
FC: Se é na pré-época que se trabalham os alicerces de uma equipa, mais fácil é reconhecer que me sinto muito bem com o meu trabalho na Naval. Noutra vertente, as maiores vendas da história da Naval foram atletas contratados por mim: o Marcelinho e o Diego Ângelo. Posso orgulhar-me ainda mais do trabalho desenvolvido, apesar de não em ter sido permitido terminá-lo.
RF: Considera que a Liga Vitalis é desvalorizada no futebol português? Há jogadores com talento para fazerem parte dos planteís dos grandes clubes da Primeira Liga?
FC: O papel da segunda liga no futebol português é muito importante. Existe, desde alguns anos, uma maior visibilidade, com as transmissões televisivas. Não nos podemos esquecer que é a verdadeira antecâmara do topo para treinadores, jogadores e outros agentes. É um espaço fundamental.
RF: As condições financeiras são desniveladas?
FC: Os apoios financeiros são algo díspares em relação aos praticados na Primeira Liga e algo desfasados do que acontece no estrangeiro. Por todas estas razões, naturalmente, é onde podem pontificar jogadores com interesse para patamares superiores e, por isso mesmo, muitas vezes partem deste espaço directamente para o estrangeiro.
RF: Há algum treinador que considere uma referência para si?
FC: Todos servem. Há aqueles com quem me identifico e aqueles de que discordo. A observância das acções dos que nos rodeiam ajudam à nossa própria evolução. Contudo, nunca nos devemos descaracterizar e, por conseguinte, a melhor forma é sermos nós próprios com autoestima e sentido auto-crítico.
RF: Há algum jogador que o tenha marcado particularmente durante a sua carreira?
FC: Sem responder de forma politicamente correcta, direi todos em geral, pois conseguem, de forma positiva ou negativa, ajudar-nos no desenvolvimento das nossas capacidades de aferição e de decisão. Mas será da mais elementar justiça nomear aqueles que mais tempo me acompanharam: o Carlos Pinto e o Hélder Ferreira. Depois há casos mais particulares, como o Gregory, que apareceu desterrado dos distritais franceses e que lancei em Portugal, para além de muitos oriundos de outros países, como fiz menção nos casos da Naval e de Adilson, mais recentemente.
RF: Qual a Liga que mais o atrai?
FC: A espanhola, sem dúvida! Pela vivacidade do jogo, pelo acompanhamento do público e pela cultura desportiva inerente ao próprio estilo de jogo com que me identifico.
RF: Há algum clube em particular que gostaria de treinar em Portugal ou no estrangeiro?
FC: Conforme já disse anteriormente, a paixão é constante em qualquer clube com um projecto que se identifique comigo. Mas quem não gostaria de treinar um grande? Não fujo à regra. No estrangeiro, por aquilo que já disse, gostaria de treinar uma equipa espanhola.
RF: Quem é que considera ser o mais forte candidato à conquista da Primeira Liga esta temporada?
FC: Sou daqueles que acredito que só no final se fazem as contas. Mas atendendo à forma anormal como tem decorrido esta época, com perda de pontos acima da média de alguns candidatos, e pela maneira como até aqui se tem apresentado, o FC Porto depende, única e exclusivamente, de si próprio e ainda possui margem de erro confortável.
RF: Como tem visto a aposta em Paulo Bento para seleccionador nacional?
FC: Acho positiva. O Paulo é competente e reúne consenso generalizado na estrutura hierárquica do futebol. Pode, igualmente, contribuir para um desmistificar de perfil para o cargo de seleccionador, abrindo horizontes a outros treinadores. Acho muito importante valorizar as capacidades, sobrepondo-se a aspectos curriculares.
RF: Qual é o seu maior sonho enquanto treinador?
FC: O meu sonho é sempre, quando estou a treinar, obter o potencial máximo do grupo que lidero. Quando consigo a optimização máxima no rendimento, mediante as condições que disponho, sinto-me realizado. É isso que procuro, mais do que ter a felicidade de treinar o clube A, B ou C. Acho que, conseguindo sempre isso e, não tenho muita razão de queix. Felizmente, a justiça acaba por fazer imperar tudo o resto.
7 comentários:
Nao percebo como é que saiu da Naval, as coisas estão ditas e bem ditas! Trouxe o Marcelinho e o Diego Angelo e a equipa estava estavel, foi um erro! Volta para de onde nunca devias ter saído Chalá!
Parabens à futebolista por publicar entrevistas assim, dar voz às equipas e jogadores das segundas divisões!
Chaló, peço desculpa pelo erro!
Bom treinador, sem duvidas! Infelizmente há quem prefira Zvunkas e outros que mal sabem o que é futebol!
A Naval demitiu-se e desde então já teve vários treinadores, nenhum de jeito... e agora está sem ninguém ao comando.. 2ª divisão é o destino
A Académica podia ter ido buscar este senhor.. ainda se vai arrepender de ter ido buscar um treinador sem experiência na 1ª liga
tal como se arrependeu do villas boas...
este senhor lançou o ventura, o castro, o andre pinto, o ukra, o rabiola...
Muito boa entrevista. É bom que alguém dê voz aos escalões inferiores e aos BONS treinadores. Um bem haja, Futebolista.
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