sexta-feira, 11 de março de 2011

Máquina do Tempo: O pioneiro da emigração lusitana

Os futebolistas e treinadores portugueses são hoje em dia um “produto” cada vez mais desejado no panorama futebolístico internacional. Elevados à condição de estrelas em campeonatos mediáticos como Espanha, Inglaterra, França, ou Alemanha, ou descritos como “operários” incansáveis e fundamentais na manobra de equipas de ligas menos populares – além fronteiras – como Suíça, Hungria, Roménia, Bulgária, Malta, ou Chipre, a estrela dos portugueses brilha cada vez com mais intensidade no planeta da bola.

O fascínio pelo jogador, ou treinador, português por parte do estrangeiro não é de agora, vem do início do século XX, altura em que o primeiro lusitano se aventurou com uma bola nos pés num rectângulo de jogo internacional.
O ilustre “aventureiro” dava pelo nome de Franscico dos Santos, e diz quem o conheceu que foi um dos mais notáveis artistas portugueses tanto dentro como fora dos campos de futebol. Mas já lá vamos explicar esta dualidade de atributos, por assim dizer.

Francisco dos Santos nasceu em 1878, em Paiões, no Concelho de Sintra, e desde cedo revelaria dotes de grande pintor, escultor e... jogador de futebol. Iniciou o seu percurso académico na Casa Pia onde teve o primeiro contacto com uma novidade – em terras lusitanas – chamada “football” introduzida em Portugal em finais do século XIX. Modalidade que no fundo não era mais do que um passatempo para o jovem Francisco que aos 15 anos se havia matriculado na Escola de Belas Artes de onde sairia com alta distinção aos 20 anos de idade.

Era por esta altura era já um talento puro no que tocava à pintura e à escultura, não sendo por isso de admirar que em 1903 se “transferiu” para a Escola de Belas Artes... de Paris, umas das mais prestigiadas escolas artísticas do Mundo.
Contudo, a sobrevivência para um jovem estudante de artes em plena “Cidade Luz” era tudo menos fácil e Francisco dos Santos começaria a sentir enormes dificuldades financeiras para prosseguir os seus estudos.

Entretanto em 1906 obteve uma nova bolsa de estudos, desta feita para Roma, onde não só iria aprofundar os seus conhecimentos artísticos como também fazer história no futebol português e italiano.
E assim o futebol voltaria a surgir no horizonte de Francisco por uma questão de necessidade já que as dificuldades financeiras sentidas em Paris iriam repetir-se na capital transalpina. Em Roma os estudos eram pagos graças às aulas de francês que leccionava e ao futebol. Neste último emprego, por assim dizer, jogou entre 1906 e 1908 pela Lazio de Roma, tornando-se desta forma no primeiro jogador português a actuar no estrangeiro.

E não foi um atleta qualquer, na verdade foi um dos primeiros ídolos do emblema romano, tendo mesmo tido a honra de ter sido eleito capitão de equipa nos anos em que defendeu as cores “biancocelestis”.
Nas poucas crónicas que descrevem aquela época Francisco dos Santos foi um centro-campista brilhante, o primeiro jogador estrangeiro quer da Lazio quer do próprio futebol italiano! De aspecto franzino, com apenas 1,60m de altura e um peso de 55 kg, ele carregou a Lázio ao colo em diversos torneios importantes numa época em que nem o campeonato nem a taça de Itália haviam sido criados.

Lendários ficaram dois jogos, um em Pisa onde actuou com duas costelas partidas e outro ante a Roma naquele que foi o primeiro derby entre os dois velhos inimgos da capital e em que o jogador português foi eleito como um dos melhores em campo.
Regressou a Portugal em 1909 ainda a tempo de jogar pelo Spor Lisboa e pelo Sporting Clube de Portugal, embora sem o sucesso granjeado em Roma.

Ainda no universo futebolístico o seu nome fica ligado à fundação da Associação de Futebol de Lisboa. Contudo o “desporto rei” sempre esteve digamos que num segundo plano na lista de paixões de Francisco dos Santos, pois o seu grande amor foi sempre a arte. E foi o seu talento para a arte que com o passar dos anos lhe daria a merecida fama e reconhecimento de um país. Entre muitas obras da sua autoria destaca-se a do busto da República e a estátua do Marquês do Pombal. Morreria em 1930, com 52 anos.

4 comentários:

Costa75 disse...

Por acaso já conhecia a história dele. Tornou-se um idolo da Lazio

Jorge Vital disse...

Curioso, pensava que as primeiras imigrações tivessem sido para Inglaterra

Ventura disse...

É pena é não haver videos desta altura. Gostava de comprovar se estes gajos jogavam tanto como se diz.

Bruno Sampaio disse...

Logo na Lazio!